O investimento em Bitcoin historicamente gerou retornos favoráveis, com ganhos anuais entre 35% e 75% nos últimos 3 a 5 anos.[2] Porém, o ativo também enfrentou quedas relevantes: o preço do Bitcoin costuma cair pelo menos 10% em três ocasiões a cada ano.[3] Como em qualquer outro investimento, os retornos são uma compensação pelo risco assumido. Investidores que mantiveram o Bitcoin por períodos prolongados foram recompensados, mas precisaram suportar momentos de volatilidade acentuada.
A queda do Bitcoin iniciada em outubro se estendeu por grande parte de novembro. Do topo ao fundo, o preço recuou 32% (Figura 1). Esse movimento está próximo da média histórica. Desde 2010, o Bitcoin registrou quedas de pelo menos 10% em cerca de 50 ocasiões, com média de retração de 30%. Desde o fundo de novembro de 2022, o ativo já caiu pelo menos 10% nove vezes. O percurso tem sido instável, mas típico de ciclos de alta do Bitcoin.
Figura 1: Último recuo está em linha com a média histórica
As quedas do Bitcoin podem ser analisadas por magnitude e duração, e os dados mostram dois padrões principais (Figura 2). “Quedas cíclicas” são profundas e prolongadas, durando de 2 a 3 anos, e historicamente ocorrem a cada quatro anos. Já as “quedas em mercados de alta” apresentam retração média de 25% e duram de 2 a 3 meses, sendo registradas de 3 a 5 vezes por ano em ciclos de alta.
Figura 2: Bitcoin passou por quatro grandes quedas cíclicas
A oferta de Bitcoin segue um ciclo de halving a cada quatro anos, e grandes quedas cíclicas de preço historicamente coincidem com esse período. Por isso, muitos participantes acreditam que o preço do Bitcoin também obedece a um “ciclo de quatro anos”. Após três anos de valorização, essa tese prevê queda no ano seguinte.
Apesar da incerteza, acreditamos que essa tese não se confirmará e que o Bitcoin pode renovar máximas no próximo ano. Primeiro, ao contrário dos ciclos anteriores, não houve movimento parabólico de preço neste mercado de alta que indicasse excesso (Figura 3). Segundo, a estrutura do mercado mudou, com entrada de capital principalmente via ETPs e tesourarias de ativos digitais (DATs), em vez de exchanges de varejo. Terceiro, como detalhamos abaixo, o cenário macroeconômico global segue favorável para os criptoativos.
Figura 3: Sem movimento parabólico de preço neste ciclo
Já há sinais de que Bitcoin e outros criptoativos podem ter atingido o fundo. Por exemplo, a assimetria das opções de venda de Bitcoin[4] está elevada, especialmente para vencimentos de 3 e 6 meses, indicando que investidores já fizeram hedge significativo contra quedas (Figura 4). Os maiores DATs também negociam com desconto em relação ao valor dos ativos em seus balanços (mNAVs abaixo de 1,0), sugerindo pouca especulação — frequentemente um sinal de recuperação iminente.
Figura 4: Assimetria elevada em opções de venda indica hedge do risco de queda
Por outro lado, indicadores de fluxo de fundos ainda mostram demanda tímida: o interesse aberto em futuros caiu em novembro, os fluxos de ETPs foram negativos até o fim do mês, e pode ter havido mais vendas de detentores antigos de Bitcoin. Dados on-chain apontaram novo pico em Coin Days Destroyed (CDD) no fim de novembro (Figura 5). O CDD é calculado multiplicando o número de moedas transacionadas pelo número de dias desde a última movimentação — o indicador sobe quando muitas moedas antigas são transferidas de uma só vez. Tal como em julho[5], o aumento recente pode indicar venda de grandes detentores de longo prazo. Para o curto prazo, a confirmação de fundo no Bitcoin depende da reversão desses indicadores: interesse aberto em futuros, fluxo líquido de ETPs e vendas de detentores antigos.
Figura 5: Mais Bitcoins antigos foram movimentados on-chain
A queda do Bitcoin em novembro ficou intermediária entre os criptoativos investíveis, segundo os índices Crypto Sectors. O segmento de melhor desempenho foi o Setor de Moedas Cripto (Figura 6). Excluindo o Bitcoin, o segmento registrou alta no mês, com destaque para criptomoedas de privacidade: Zcash (+8%), Monero (+30%) e Decred (+40%).[6] O tema privacidade também ganhou foco no ecossistema Ethereum: Vitalik Buterin apresentou um framework de privacidade na Devcon, e a Aztec lançou a Ignition Chain, solução Layer 2 voltada à privacidade.[7] Como destacado em nosso relatório anterior, a Grayscale Research defende que a tecnologia blockchain só atingirá seu potencial máximo com recursos de privacidade.
Figura 6: Ativos de moeda fora do Bitcoin superaram em novembro
O segmento de pior desempenho foi o Artificial Intelligence (AI) Crypto Sector, com queda de 25%. Apesar da fraqueza nas cotações, houve avanços fundamentais relevantes.
O destaque ficou para Near, segundo maior ativo do AI Crypto Sector em valor de mercado, que registrou crescimento na adoção do produto Near Intents (Figura 7). O Near Intents simplifica a experiência entre cadeias ao conectar o objetivo do usuário a uma rede de solucionadores que disputam a execução do melhor caminho entre cadeias. Esse recurso já amplia a utilidade do Zcash, possibilitando gastos privados em ZEC enquanto o destinatário recebe Ether ou USDC em outras redes. É uma solução promissora, e acreditamos que essa integração pode impulsionar pagamentos privados em todo o ecossistema cripto.
Figura 7: Near avança no ajuste produto/mercado com Intents
Em paralelo, desenvolvedores têm voltado atenção ao x402, novo protocolo aberto de pagamentos criado pela Coinbase, que permite transações autônomas de stablecoins por agentes de IA diretamente na internet. Ao eliminar criação de contas, aprovações humanas e taxas de processadores, o padrão viabiliza microtransações sem atrito, conduzidas por IA e liquidadas via blockchain. O x402 ganhou tração recentemente, crescendo de menos de 50.000 transações diárias em outubro para mais de 2 milhões por dia no fim de novembro.[8]
O mercado de ETPs de cripto continua em expansão, graças aos novos padrões genéricos de listagem aprovados pela SEC em setembro. Novos ETPs de XRP e Dogecoin foram lançados no mês passado, e mais produtos de token único devem ser listados até o fim do ano. Segundo dados da Bloomberg, já são 124 ETPs focados em cripto listados nos EUA, com ativos sob gestão que totalizam US$145 bilhões.[9]
O ano de 2025 tem sido excepcional para o setor de ativos digitais. A clareza regulatória impulsionou uma onda de investimentos institucionais que deve sustentar o crescimento nos próximos anos. Apesar disso, as valorizações não acompanharam a evolução dos fundamentos: o índice Crypto Sectors ajustado pelo valor de mercado acumula queda de 8% desde janeiro.[10] Embora 2025 tenha sido volátil para o mercado cripto, acreditamos que fundamentos e preços vão convergir, e estamos otimistas para o cenário até o final do ano e para 2026.
No curto prazo, o principal fator será o corte de juros pelo Banco Central dos Estados Unidos (Fed) na reunião de 10 de dezembro, além das orientações para 2026. Reportagens recentes indicam que Kevin Hassett, diretor do Conselho Nacional Econômico, é o favorito para substituir o presidente do Fed, Powell.[11] Hassett tende a apoiar taxas menores: em entrevista à CNBC, afirmou que o corte de 25 pontos-base foi “um bom primeiro passo” rumo a “juros muito mais baixos”.[12] Juros reais mais baixos normalmente pressionam o valor do dólar americano e favorecem ativos concorrentes, como ouro físico e determinadas criptomoedas (Figura 8).
Figura 8: Corte de juros pelo Fed tende a favorecer o Bitcoin, mantidas as demais condições
Outro catalisador possível é o avanço de propostas bipartidárias para regulamentação do mercado cripto. O Comitê de Agricultura do Senado (responsável pela Comissão de Negociação de Futuros de Commodities - CFTC) divulgou em novembro um texto preliminar bipartidário.[13] Se o tema permanecer bipartidário — e não se tornar pauta partidária nas eleições — o projeto pode avançar em 2026, estimulando investimentos institucionais e maior valorização. Apesar do otimismo de curto prazo, os maiores ganhos tendem a beneficiar quem mantém posição no longo prazo (HODL).
Alguns links levam a artigos que podem estar protegidos por restrição de acesso por assinatura e exigir assinatura para leitura completa.
Definições dos Índices: O FTSE/Grayscale Crypto Sectors Total Market Index mede o retorno de preço dos ativos digitais listados nas principais bolsas globais. O FTSE Grayscale Smart Contract Platforms Crypto Sector Index mede o desempenho de criptoativos que servem de plataforma para contratos autoexecutáveis. O FTSE Grayscale Utilities and Services Crypto Sector Index acompanha criptoativos voltados a soluções práticas e corporativas. O FTSE Grayscale Consumer and Culture Crypto Sector Index avalia criptoativos focados em consumo de bens e serviços. O FTSE Grayscale Currencies Crypto Sector Index mede criptoativos que desempenham papéis de reserva de valor, meio de troca ou unidade de conta. O FTSE Grayscale Financials Crypto Sector Index acompanha criptoativos dedicados a transações e serviços financeiros.





