
O setor de blockchain passou por uma transformação marcante no último ano, impulsionada pelo surgimento de múltiplas soluções Layer 2 (L2) e avanços tecnológicos. O principal desafio atual é escalar blockchains de forma eficiente, preservando segurança e descentralização. O uso de Appchains ganhou destaque como solução, pois permite controlar os custos operacionais da blockchain por meio de medidas específicas numa infraestrutura modular. Este artigo detalha por que a infraestrutura blockchain ainda impõe custos elevados, de que forma as despesas vêm caindo em diferentes camadas do ecossistema e o que fundadores devem considerar sobre a estrutura de gastos ao lançar suas próprias redes.
Soluções Layer 1 (L1) trouxeram racionalização significativa dos custos de transação na rede Ethereum, com destaque para dois upgrades: EIP 1559 e EIP 4844 (upgrade Dencun). O EIP 1559 implementou um mecanismo inovador de precificação, separando a taxa básica das gorjetas e taxas de prioridade, o que possibilita aos usuários estimar custos de acordo com prioridade e congestionamento da rede. Isso trouxe mais previsibilidade e justiça ao mercado de taxas.
O EIP 4844, por sua vez, introduziu os Blobs (binary large objects), que oferecem uma alternativa muito mais econômica para Layer 2 armazenarem dados de transação. Antes, as L2 utilizavam callData, competindo com transações comuns da Ethereum pelo espaço restrito de gas. Os Blobs funcionam em um namespace separado, não são armazenados de forma permanente e são removidos automaticamente da blockchain após cerca de 18 dias. Cada bloco comporta até 16 blobs, equivalendo a aproximadamente 2 MB de capacidade extra (4096 elementos de campo × 32 bytes × 16 blobs por bloco).
A adoção dos Blobs gerou reduções de custos extraordinárias. Em benchmarks anteriores, o callData consumia de 2 a 10 KB por bloco; com o EIP 4844, é possível atingir até 384 vezes mais capacidade. Na prática, muitos custos de L2 já caíram mais de 90% após a implementação do EIP 4844. Porém, esses avanços em L1 ainda não bastam para escalar a Ethereum em um cenário com milhares de rollups, pois a demanda por espaço de armazenamento aumentará significativamente com a adoção on-chain em larga escala.
As soluções Layer 2 revolucionaram a escalabilidade do blockchain ao transferir a execução das transações para fora da cadeia principal, mantendo a segurança por meio de mecanismos de verificação. Existem dois grandes tipos de rollup no mercado: Optimistic Rollups e Zero-Knowledge (ZK) Rollups. Os Optimistic Rollups permitem que uma única entidade honesta envie provas de fraude e seja recompensada ao identificar ordens maliciosas, enquanto os ZK Rollups utilizam provas de zero conhecimento para verificar, de modo criptográfico, as atualizações da L2.
Operadores de rollup executam funções essenciais: ordenação (organizando transações em sequência e publicando lotes na L1), execução (armazenando/rodando operações e atualizando estados), proposição (atualização da raiz de estado do rollup na L1), desafios de raiz de estado (apenas para optimistic rollups) e geração de provas (apenas para ZK rollups). As receitas vêm de taxas de transação pagas pelos usuários e do possível Maximal Extractable Value (MEV), embora a extração de MEV ainda não seja padrão nas estratégias de receita.
O custo operacional dos rollups envolve despesas de L2 (computação e armazenamento) e de L1 (disponibilidade de dados e liquidação). Antes das últimas atualizações de protocolo, os custos de L1 correspondiam a até 98% do custo operacional total das L2. Esse fator explica porque operar um rollup ainda é dispendioso—o rollup paga para empacotar transações em lotes e publicá-los na L1, mesmo podendo cobrar menos por computação e armazenamento do que as redes base, já que basta uma entidade honesta verificar a cadeia, não todos os participantes.
Principais projetos de L2 adotaram estratégias open source para acelerar a adoção. A Optimism lançou o OP Stack, a Arbitrum trouxe o Arbitrum Orbit, a Polygon desenvolveu o Polygon CDK, a ZK Sync apresentou o ZK Stack, e a Starkware lançou o Madara Stack. Essas soluções facilitam o lançamento de novas redes. Paralelamente, empresas buscam estratégias alinhadas ao ecossistema, como o conceito Superchain da Optimism, planos de escalabilidade da Arbitrum, a camada de agregação da Polygon e o conceito de elastic chain da ZK Sync—todas visando ampliar interoperabilidade e eficiência de capital entre múltiplos rollups.
O mercado de stacks L2 desenvolveu modelos econômicos próprios. A Optimism cobra 2,5% da receita do sequencer ou 15% do lucro do sequencer de participantes da Superchain. A Arbitrum fica com 10% do lucro do sequencer para lançamentos de L2 em seu stack, mas permite L3 gratuitos em sua própria rede. Os stacks de ZK Rollup como Polygon CDK e ZK Stack são atualmente gratuitos, mas podem evoluir para modelos econômicos sustentáveis. Esses ecossistemas disputam espaço através de subsídios e parcerias, contando com grandes aportes de capital para fomentar o crescimento do ecossistema.
Provedores de Rollup-as-a-Service (RaaS) surgiram para simplificar a gestão e reduzir o peso operacional da infraestrutura blockchain. Eles assumem funções críticas como operação de nós, atualizações de software, gestão de infraestrutura, ordenação, indexação e análise, liberando os desenvolvedores para focar no core business.
Esses provedores adotam estratégias de mercado variadas e diferentes alinhamentos de ecossistema. Alguns são especializados em tipos específicos de rollup, enquanto provedores agnósticos como Caldera, Zeeve, Alt Layer e Gelato integram tanto optimistic como ZK rollups. Os modelos de precificação em geral combinam assinaturas mensais fixas com acordos de divisão de lucro. Para optimistic rollups, as mensalidades variam entre US$3.000 e US$4.000; para ZK rollups, o custo é aproximadamente o dobro (US$9.500 a US$14.000), devido ao alto consumo computacional e custo de verificação das provas. É comum a cobrança de 3-5% do lucro do sequencer para alinhar incentivos. Alguns provedores testam alternativas, cobrando apenas 2% do lucro variável do sequencer, sem custo fixo, e habilitando interoperabilidade entre redes.
Soluções alternativas de disponibilidade de dados atacam uma das principais fontes de despesa dos rollups—os custos de L1 para disponibilidade e liquidação. Rollups padrão que processam 100 milhões de transações podem ter custos mensais de L1 de até US$25.000, tornando a liquidação via L1 viável apenas para redes maiores. Soluções que oferecem alternativas econômicas ao settlement no mainnet reduzem drasticamente os custos à medida que cresce o volume de transações. Essas inovações em infraestrutura modular—como soluções de ordenação compartilhada e sistemas de agregação de provas—impulsionam uma nova fase de otimização de custos, que tende a se aprofundar com a maturidade do setor.
Fundadores de Web2 interessados em blockchain devem realizar uma análise criteriosa de custo-benefício antes de optar por lançar suas próprias redes. Entender por que operar uma blockchain segue caro é essencial para esse processo. Apesar da expressiva redução dos custos on-chain, eles ainda representam um investimento relevante quando comparados aos padrões de infraestrutura Web2.
O custo total de operação varia conforme a demanda, mas para uma rede média que processa 2 milhões de transações mensais com soluções alternativas de disponibilidade de dados, a estimativa está entre US$4.000 e US$6.500 para optimistic rollups e de US$10.500 a US$16.500 para ZK rollups. Quando a rede se torna lucrativa, até 20% do lucro do sequencer pode ser destinado a parceiros de infraestrutura e ecossistema. Os desenvolvedores devem ponderar se os benefícios da descentralização—mais controle do usuário, operações transparentes e resistência à censura—justificam esses custos frente à conveniência e base de usuários consolidada das plataformas atuais.
O fundador precisa avaliar suas necessidades específicas, considerando demandas dos usuários, prioridades do produto, indicadores de desempenho exigidos pelo seu caso de uso e a atratividade de mercado. A decisão de lançar uma rede independente ou construir sobre plataformas já existentes deve levar em conta esses fatores, não apenas o objetivo de cortar custos.
A tecnologia blockchain avançou substancialmente em otimização de custos nas três camadas: inovações em L1, evolução do ecossistema L2 com stacks open source e modelos de compartilhamento de receitas, além do avanço da infraestrutura modular via RaaS e alternativas para disponibilidade de dados. O resultado são custos operacionais típicos entre US$4.000 e US$16.500 mensais, conforme a arquitetura escolhida. Apesar desses avanços, entender a estrutura de custos continua sendo fundamental para quem avalia montar sua própria blockchain.
Reduzir custos tecnológicos e operacionais, porém, é apenas parte do desafio. O setor precisa seguir reduzindo o abismo de custo e conveniência entre aplicações descentralizadas e a infraestrutura tradicional Web2. Para que a adoção massiva do Web3 aconteça, as reduções de custo precisam vir acompanhadas de casos de uso relevantes, experiências superiores para o usuário e propostas de valor claras que justifiquem a migração de plataformas Web2 estabelecidas. Fundadores inovadores são essenciais para superar esse gargalo e viabilizar a adoção em escala do blockchain.
Sim, R3s contam com fundamentos robustos: infraestrutura blockchain eficiente, adoção crescente e parcerias estratégicas. Para quem busca exposição a esse ecossistema no longo prazo, o potencial de valorização compensa as preocupações atuais com preço.











