Como funciona o valor de mercado na bolsa: O que todo investidor deve saber

¿O que realmente determina o preço de uma ação?

Quando observamos a cotação de qualquer ação na bolsa, o que estamos vendo é o resultado de um processo simples mas poderoso: o confronto entre quem quer comprar e quem quer vender. Este preço consensual é o que denominamos valor de mercado de uma ação, e é a métrica mais importante que encontraremos diariamente em qualquer mercado bolsista, seja em Nova Iorque, Londres ou Madrid.

O conceito não é complicado: o valor de mercado é precisamente isso, o valor que o mercado atribui em cada momento. Não importa qual seja o “valor real” segundo os livros contábeis ou o que pense um analista; o que importa é o que outros investidores estão dispostos a pagar neste instante.

Da ineficiência do escambo à eficiência do preço

Para entender por que existe o valor de mercado, convém remontar à origem dos sistemas de troca. Na antiguidade, quando o escambo era o sistema dominante, surgiam problemas evidentes: quantas alfaces equivaliam a um frango? Quantas peles de vaca justificavam um tapete? Não havia referência comum.

A criação da moeda resolveu esse problema. De repente, todos os bens tinham um equivalente universal, permitindo trocas mais eficientes. No entanto, mesmo com moeda, o preço de cada bem continuava sendo resultado da Lei da Oferta e da Procura: o preço é fixado no ponto onde a quantidade que os compradores desejam adquirir coincide exatamente com a quantidade que os vendedores desejam oferecer.

No mercado bolsista acontece exatamente o mesmo. O valor de mercado de uma ação emerge do encontro entre a demanda (quem quer comprar e a que preço) e a oferta (quem quer vender e a quanto).

Posso eu estabelecer o preço de venda que desejo?

Técnicamente, sim. Qualquer investidor pode colocar uma ordem de compra ou venda ao preço que escolher. O problema é que ninguém tem a obrigação de aceitá-la.

Se uma ação cotiza a 16 euros e eu tento vendê-la a 34 euros, provavelmente ninguém me a comprará e minha ordem permanecerá sem execução indefinidamente. O oposto também é verdadeiro: se tento comprar ao preço de 12 euros quando o mercado pede 16, também não encontrarei vendedor.

O mercado atua como um árbitro que estabelece o preço de referência. Neste contexto, o valor de mercado de uma ação reflete constantemente as expectativas de todos os participantes sobre o que esse ativo deveria valer.

A liquidez: o fator invisível mas crítico

Aqui reside um dos maiores perigos para os investidores incautos. Ocasionalmente, certos valores saltam para os titulares por terem experimentado altas espetaculares em pouco tempo. Quando se examina o detalhe, descobre-se que o volume de negociação era ridículo: quase não havia compradores nem vendedores.

Quando a liquidez é baixa, podem ocorrer três coisas: que a operação não se realize de modo algum, que quem vendia a um preço muito alto consiga seu objetivo, ou que quem comprava a um preço muito baixo consiga. Os movimentos de preços em ativos ilíquidos são fictícios, meras ilusões de ótica.

Por isso, é essencial trabalhar apenas com ativos que possuam volume de negociação respeitável. Isso garante que:

  • Os preços reflitam realmente o consenso do mercado
  • As ordens se cruzem rapidamente
  • Não fiques preso com posições impossíveis de fechar

Mercado primário vs. mercado secundário: Onde se forma o valor?

Estes termos geram confusão, mas a distinção é crucial.

Mercado primário (ou mercado de emissão): É onde as empresas, governos e organismos emitem novos títulos. O dinheiro flui diretamente para o emissor. Os investidores adquirem títulos recém-criados. Aqui há duas modalidades: emissão direta (acordo prévio entre emissor e investidores) ou emissão indireta (participam intermediários financeiros).

Mercado secundário (ou mercado de negociação): É onde os proprietários já existentes de títulos os trocam entre si. Aqui negocia-se o “usado” em contraste com o “novo” do mercado primário. Este é o cenário onde se forma o valor de mercado de uma ação que observamos na tela.

A imensa maioria das nossas operações como investidores ocorre no mercado secundário.

Valor de mercado e capitalização bolsista: Duas faces da mesma moeda

Estes conceitos estão inseparavelmente ligados. A capitalização de mercado representa o valor total que o mercado atribui a uma empresa como um todo.

Calcula-se por: Capitalização de mercado = Valor de mercado da ação × Número total de ações

Invertendo a fórmula, obtemos o valor de mercado individual:

Valor de mercado de uma ação = Capitalização de mercado ÷ Número total de ações

Felizmente, esses cálculos aparecem automaticamente na tela do corretor. O importante é compreender que a capitalização bolsista nem sempre coincide com o valor que a empresa tem em seus livros contábeis.

O bid-ask spread: A comissão invisível do trading

Quando operamos com valores, observamos dois preços simultaneamente:

  • Bid (venda): O preço ao qual podemos vender nosso ativo
  • Ask (compra): O preço ao qual podemos comprá-lo

A diferença entre ambos chama-se spread e representa a comissão implícita que o intermediário retém de cada operação. Em ativos muito líquidos, o spread é mínimo. Em ativos ilíquidos, pode ser considerável.

Todos os ativos têm valor de mercado?

Não. Um ativo só tem valor de mercado se existir liquidez suficiente.

As ações de grandes empresas como BBVA têm contraparte imediata. Ações de empresas pequenas quase não encontram compradores ou vendedores. E se adquirires private equity ou dívida não cotada, provavelmente descobrirás com horror que é praticamente impossível desfazer-te da posição quando precisares.

A liquidez determina se um ativo tem um valor de mercado operacional ou se simplesmente existe um valor teórico que ninguém está disposto a pagar.

As três métricas de avaliação: Nominal, contábil e de mercado

Existem três formas distintas de avaliar uma ação, e muitos investidores confundem-nas:

Valor nominal: O preço ao qual a ação foi emitida originalmente. Calcula-se dividindo o capital social pelo número total de ações. Serve como ponto de referência histórico, mas pouco mais. Com o tempo, diverge enormemente do valor de mercado.

Valor líquido contábil: Reflete o valor da empresa segundo seus livros, calculado como (Ativos - Passivos) ÷ Número de ações. Os investidores de orientação “value” consideram-no a métrica mais séria, argumentando que eventualmente o mercado o reconhecerá. Muitas vezes, não acontece.

Valor de mercado: É o que o mercado está pagando neste momento. Resulta do equilíbrio dinâmico entre compradores e vendedores. É o mais visível mas potencialmente o mais equívoco.

O problema fundamental: o valor de mercado pode estar completamente errado

Aqui é onde a honestidade intelectual obriga a admitir uma verdade incómoda: o valor de mercado de uma ação é fundamentalmente ineficiente. Não reflete necessariamente o que a empresa realmente vale.

O valor contábil é melhor? Também não. Ambas as métricas têm limitações. Mas o valor de mercado sofre de um problema particular: está sujeito a bolhas especulativas onde os preços sobem desconectados de qualquer fundamentação.

O caso de Terra: De estrela a desastre

Terra nasceu cotando em torno de 11,81 euros. Em menos de doze meses atingiu 157,60 euros. Por quê? Simplesmente porque a internet decidiu que era o próximo “negócio de sucesso”. A empresa até foi publicitada na televisão em horário de máxima audiência como um triunfo bolsista.

Três anos depois, foi absorvida pela sua matriz. Em 2017, os últimos vestígios da companhia desapareceram. O valor de mercado tinha sido completamente fictício.

O caso de Gowex: Quando o valor de mercado era pura mentira

Gowex foi uma empresa espanhola que presumia de resultados espetaculares. Afirmava ser um dos maiores fornecedores mundiais de tecnologia Wi-Fi. O problema: poucos entendiam realmente como funcionava o Wi-Fi.

Quando uma firma de pesquisa americana realizou um estudo exaustivo, o castelo de cartas desabou. Seu CEO tinha mentido aos empregados sobre a viabilidade da empresa. Os investidores descobriram que aquela ação que crescia sem parar na bolsa não passava de uma fraude de magnitude colossal.

Ambos os casos ilustram que o valor de mercado pode desconectar-se completamente da realidade.

Conclusão: Usar o valor de mercado com sabedoria

O valor de mercado de uma ação é a métrica mais importante na bolsa porque é ela que determina o preço de negociação. Mas deve ser tratado com saudável ceticismo.

Após uma década de taxas de juros baixas e políticas monetárias extremamente frouxas, o ambiente atual favorece novamente a análise fundamental. O dinheiro busca empresas com fluxos de receita sólidos, despesas controladas e viabilidade comprovada, em vez de perseguir crescimento especulativo.

Para tomar decisões de investimento responsáveis, o valor de mercado deve ser complementado com análise do valor líquido contábil, estudo dos estados financeiros e compreensão genuína do negócio subjacente. O preço que vês na tela é importante, mas nunca deve ser a única métrica consultada antes de investir.

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