Ao longo destes anos a atuar no mundo das criptomoedas, testemunhei inúmeras ondas de entusiasmo e quedas, mas a trajetória do RWA (Ativos do Mundo Real) é realmente um pouco especial. Não se trata de uma explosão repentina, como uma fogueira que arde intensamente por um mês e depois se apaga. É mais como um fogo brando a cozinhar lentamente, que vem sendo preparado desde 2022 e cuja popularidade tem vindo a aumentar de forma constante.

O estranho é que — apesar de frequentes notícias de financiamento de projetos RWA — há poucos aplicativos que realmente tenham sido implementados com sucesso. O que se passa?

Conversei com alguns amigos que trabalham com RWA, e todos apontam para o mesmo obstáculo: como colocar ativos fora da cadeia na blockchain e como validá-los. Parece uma questão técnica, mas na verdade é o que impede toda a indústria de avançar.

Vamos a um exemplo concreto: uma propriedade avaliada em cinco milhões de dólares precisa ser tokenizada e colocada na blockchain. O que é necessário fazer? Primeiro, provar que a propriedade realmente existe; depois, verificar se a avaliação é precisa; em seguida, confirmar que a propriedade está livre de disputas; por último, garantir que o token corresponde exatamente ao ativo físico. Cada etapa envolve uma quantidade enorme de dados fora da cadeia.

Qual é a abordagem tradicional? Uma empresa de auditoria emite um relatório, faz o upload do PDF para o IPFS, e registra o hash na blockchain. Parece simples, mas há problemas graves — relatórios manuais podem ser falsificados, PDFs podem ser falsificados, e essa validação é estática. Uma auditoria por mês, e como monitorar dinamicamente o valor do ativo durante os trinta dias restantes? Ninguém faz isso.

Há ainda um problema ainda mais complicado. Diferentes tipos de ativos RWA exigem formatos de dados completamente diferentes. Imóveis precisam de certidão de propriedade, títulos de dívida precisam de registros de pagamento, obras de arte precisam de certificados de autenticação — cada categoria tem sua própria lógica de validação. Isso leva à ausência de uma solução única, e cada projeto precisa criar sua própria estrutura, o que reduz drasticamente a eficiência.